SIMPATIA
PELOS EXCLUÍDOS
É
muito comum as pessoas me perguntarem quais minhas principais características,
talvez esperando respostas do tipo: “sou responsável”, “amigo”, “tenho caráter”,
“faço um bolo de mandioca maravilhoso”, “sou uma pessoa saudável”, “sou o genro
que sua mãe pediu a Deus”, enfim.
Além
de eu não me enquadrar em algumas dessas características (não sei fazer bolo de
mandioca, não sou tão saudável assim e acho que não sou o genro que “mamãe”
pediu a Deus), não acredito que posso me definir usando tais clichês aceitos
com facilidade pela maioria.
Por
falar em clichês, queria discutir alguns nesse texto. Para tanto farei uma
regressão a um passado recente da minha vida.
Sempre
fui uma pessoa viciada em redes sociais e aplicativos, muito embora tenha dado
fim em todos por motivos pessoais. Todos. Twitter, Facebook, Instagram,
whatsapp, viber, “bate papo” e por aí vai. Logo que me divorciei, no final do
ano de 2014, resolvi experimentar o Tinder, que para quem não sabe nada mais é
do que um aplicativo que busca pessoas próximas a você e tenta estabelecer um
certo contato.
É
um aplicativo muito bacana que te possibilita conhecer pessoas fantásticas.
Claro que existe uma cota enorme que pode ser colocada na categoria “curva de
rio” que sempre usamos para classificar aquilo que não combina conosco e nos
irrita, na maioria das vezes.
Mas
onde o Tinder entra nesse lance todo?
Lembram
que eu disse que eu tinha uma ideia de característica principal diferente dos
demais? Pois é. O Tinder me ajudará a explicar isso.
Quando
a pessoa entra no aplicativo, geralmente ela escreve um breve texto falando
dela e o que espera da pessoa que pretende conhecer e se encontrar, coloca umas
fotos e tudo o mais e: “plau”!. Tá pronta para a ação.
Aqui
entra uma de minhas principais características: desde muito pequeno eu
condicionei meu cérebro a analisar as pessoas. Eu sei que é algo meio ridículo,
mas eu sempre tentei enxergar o fundo de cada pessoa que passava pela minha
vida, sua essência, sua alma e seus anseios. Daí vem minha grande frustração em
não ter cursado Psicologia quando mais jovem... enfim.
Por
diversas vezes eu escrevi que consigo enxergar atrás do olhar das pessoas o que
seu interior revela, ainda que ela use uma máscara perante os outros. Eu sempre
considerei isso uma espécie de maldição, pois eu acabava pegando um pouco da
tristeza que eu enxergava no fundo daquelas pessoas.
Ao
entrar no Tinder não foi diferente.
Sempre
procurei analisar o olhar e o perfil das pessoas que dividiam aquele aplicativo
comigo, muito embora a motivação que me fez aderir ao aplicativo seja igual a
de todo mundo, ou seja, conhecer pessoas legais. E de fato conheci!
Notei
certo padrão em alguns perfis: “Feliz e de bem com a vida”; “procuro pessoas de
bem com a vida”. Você pode pensar: “o que há de errado nisso?” Não há nada de
errado, cada um escolhe o que quer de melhor para sua vida, claro.
Concordo
com o consenso geral de que precisamos de pessoas que acrescentem e agreguem à
nossa vida algo que não temos. Como diria Shakespeare em Hamlet: “É aí que bate
o ponto”!
Eu
acho que a grande dificuldade em se aceitar as limitações alheias vem do medo
de que isso entre em choque com nossas próprias limitações.
Ora,
se eu não estou de bem com a vida, nada mais razoável que procure alguém que
esteja para me tirar dessa situação angustiante, certo?
Isso
não é uma regra, óbvio. Porém essa maldição que me acompanha desde pequeno e
que me permite enxergar por “trás das janelas da alma”, fez com que eu
percebesse que muitas dessas pessoas só buscam um contraponto para suas
decepções, o espelho do que queria ser e não tem condições, muitas vezes por
uma limitação bioquímica, ou alguma questão psicológica, enfim.
O
medo de ficar só faz com que as pessoas demonstrem algo que às vezes não é
sincero em busca de algo que supra essa falta de felicidade e de prazer pela
vida.
Eu
não as culpo e vou dizer a razão: tenho uma simpatia absurda pelos excluídos.
A
sinceridade do sentimento me atrai. A essência da dor também, por mais que, no
segundo caso eu seja alvo de um “raio trator” e acabe sendo atingido por uma
dose considerável de sofrimento alheio.
Mas
eu prefiro estar ao lado dos excluídos, os tristes e aqueles que têm certa
dificuldade em expressar o verdadeiro perfil da sua alma.
Quem
está do lado deles? Ninguém.
E
mais: eu sou um deles!
É
muito fácil estar do lado de uma pessoa que vomita para todo mundo que é feliz
do tempo todo. Porém, a essência do verdadeiro amor, compaixão, amizade e
cumplicidade é enxergar a necessidade de um ombro amigo no outro e de oferecer,
de pronto, esse ombro amigo.
Todos
sofremos e não por uma escolha nossa. Ninguém escolhe sofrer. Não acredito na
definição que dão ao masoquismo: “o prazer pelo sofrimento”. Se há prazer não
há sofrimento e vice versa.
Portanto,
ninguém escolhe sofrer.
Eu
não escolhi sofrer e se pudesse juro que trocaria meu cérebro por outro, mais
usado, menos inteligente, mais fútil, porém livre do sofrimento.
Quantas
foram as noites em que eu dobrei os joelhos pedindo para Deus me conceder esse único
desejo? Inúmeras.
Porém,
enquanto eu não mudo de cérebro, sigo tendo extrema simpatia pelos excluídos,
por aqueles que sofrem, seja pela tristeza involuntária, seja pela fome, pela
miséria, pelo sofrimento, pelas inúmeras marcas que as tragédias da vida deixam
no rosto, pelo cansaço dos anos mal vividos, pelos que são massacrados
diariamente, vitimas da violência e do sem número de bestialidades que o ser
humano é capaz.
Por
que eu tenho simpatia por eles? A resposta deveria ser obvia, não?
Porque
eles não precisam de nada mais do que uma mão amiga, uma palavra confortadora,
um ombro acolhedor.
Estar
ao lado de quem não tem nenhum problema é fácil amigos. Oxalá todos nos pudéssemos
viver assim. Mas a vida não é tão bonita quanto se pinta nos perfis do Tinder.
Mas
ela pode melhorar e para isso não é preciso muito.
Você,
caro amigo, que está lendo esse texto nesse momento acaba de fazer algo por um
excluído, sabia?
Lendo
esse meu texto, você dedicou uns minutos do seu tempo para conhecer um pouco de
minhas angustias e isso torna minha vida muito mais leve porque sei que ainda
existem pessoas capazes disso, muito embora eu opte grande parte das vezes pelo
silêncio.
Dito
isso, amigos, romanos, compatriotas, proponho que façamos uma “corrente do bem”
plagiando descaradamente o filme: se alguém te ajudou num momento de
sofrimento, ajude alguém que está na mesma situação e assim por diante. Vá
espalhando o carinho e a compaixão pelos outros.
Garanto
que dá pra ser muito feliz fazendo isso.
Duvida?
Experimente e depois me conte.
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