Escrever nem sempre é simples como se imagina.
Muita gente pensa que é fácil, mas, na verdade, é uma atividade muito dolorosa
para alguns.
Dói, muito. Principalmente para aqueles que não
traçaram a “arte de escrever” como meta para a vida.
No meu caso, escrevo por necessidade.
Mas quando as coisas surgem por necessidade nem
sempre são prazerosas ou indolores.
O lado ruim de se escrever quando se tem como
diagnóstico a depressão é que muitas das suas palavras, constantemente, são
interpretadas como se fossem as últimas.
Nem sempre é assim.
Muitas vezes são apenas um reles desabafo sem
destinatário certo ou um “não liguem para isso”.
A dor decorre desse fato: pois se chegamos ao ponto
de expor sentimentos que nos ferem, pode ter certeza que, nesse procedimento de
eliminação eles ferem muito mais.
Seria como o ato de vomitar, parece que vamos virar
do avesso, nos contorcemos em espasmos, mas alguns instantes depois vem o
alívio.
Em todos os textos que já escrevi na minha vida eu
deixei um pouco de lágrimas sobre eles. Mas essa dor foi para mim extremamente
necessária. Sou partidário da ideia de que o texto, quando está pronto, quer
sair, força a saída.
E isso dói.
Pois todo aquele sentimento aprisionado e maturado
sai de forma avassaladora, cheio de espinhos, como uma esfera envolta em arame
farpado rasgando sua garganta.
Chego a ficar dias incomunicável, fechado, triste,
sob domínio dos efeitos colaterais.
Ademais, ao longo da minha vida eu tive que lidar
com a ideia de ser sempre o “cara engraçado” e tudo mais. Sempre mantive minhas
tristezas aprisionadas e escrever foi a forma que encontrei para me sentir um
pouco melhor comigo mesmo.
Só que aí volto no meu velho problema: Mais uma
vez, quando se tem depressão não temos a liberdade de escrever o que queremos,
sendo que, na maioria das vezes, escrever o que queremos é tudo que precisamos.
Mas a interpretação sempre nos é desfavorável. Sempre
ouvimos que “precisamos de ajuda”.
Não há como não considerar isso.
Penso e repenso se vale a pena seguir sentindo essa
dor... de verdade.
Não sei se a relação “custo-benefício” é vantajosa.
Revirar sentimentos aprisionados também me traz uma
dor muito grande, não sei se vale a pena.
Nesse ponto eu paro mais uma vez para pensar.
Bom, realmente é uma dor muito grande expor meu
interior dessa forma. De fato a exposição pode ser muito mais dolorosa que o segredo.
Mas nossa cabeça e nosso coração funcionam como uma grande panela de pressão.
Muitas vezes é melhor tirar a tampa e deixar a pressão sair.
Guardar as coisas pode ser muito pior. Eu nunca fui
bom com palavras, nunca fui um expert em expor minhas tristezas de forma
falada, sempre me resguardei.
Sempre tive medo que meus tristes sentimentos
magoassem as pessoas.
Por isso os mantive bem guardados e isolados dentro
da minha cabeça.
Mas escrever, muito embora seja desconfortável às
vezes, me ajudou a lidar com muita coisa. Ajudou a entender minha posição nesse
mundo e na minha família.
Ajudou, ainda, a entender que não podemos fugir e
ignorar aquilo que somos.
Desde pequeno minha cabeça funcionou dessa forma. Das
minhas desventuras eu criei histórias que ficaram guardadas no meu
subconsciente e que hoje rendem textos não tão ruins. Para o meu exterior
pratiquei o “autobullying”, tirando sarro das minhas próprias bobagens.
Não há como, de fato, ignorar isso tudo.
Talvez essa “dor que as letras me causam” seja uma
dor pela qual eu esteja destinado a passar minha vida toda.
Isso é entender nossa posição.
Assim como aceitar que às vezes as pessoas esperam
da gente aquilo que não podemos ou não queremos ser. Mas elas encontram, nesse
fato, a importância que nos é atribuída em suas vidas.
Penso muito nisso.
Talvez se eu não fosse tão “engraçadinho” assim, não
teria tanto significado na vida daqueles que me rodeiam e sempre clamam por
minha “piadinhas” e “historinhas engraçadas”. Ou ainda, sempre pedem que eu
escreva algo novo.
Portanto, seguirei sentindo dor. Mas escrevendo! Aceitarei
minha posição consolidada e aprenderei a conviver com isso.
Mesmo sendo mal interpretado ou vigiado às vezes, escrever
continuará a ser meu bálsamo.
Continuarei externando histórias sobre mim, pois é
muito mais fácil escrever sobre quem se conhece profundamente e contribuirá
para que eu siga me conhecendo a cada dia mais.
E, ainda, como diria a inscrição da entrada do
Oráculo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”.
Pois, se Sócrates tomou isso como filosofia de
vida, quem sou eu para negar?
Então toda a dor que poderei sentir ao longo da
minha vida será útil para esse eterno processo de cura e de autoconhecimento.