domingo, 4 de janeiro de 2015

“MEDO”





Eu já escrevi por diversas vezes que a coisa mais comum na minha vida é ter pesadelos. A depressão me condiciona a isso. Ter um ou outro sonho bom é algo muito raro e motivo para comemoração.
Mas não é sempre assim.
Cá estou eu para falar de mais um que ocorreu essa semana. Foi tenso, assustador e aflitivo.
Nele em me deparava com algo que eu tenho um pavor lancinante: pontes sobre rios, lagos ou mar.
Eu simplesmente não consigo superar o meu medo de água.
Talvez isso se explique pelo fato de ter perdido alguns parentes vitimas de afogamento. Mas acredito que sei onde está, exatamente, o gatilho de tudo isso.
Um conhecido (marido de uma prima) perdeu o irmão, o qual se afogou em um rio. Eu até entendo o sofrimento e a sensação de impotência nesse momento, pois não é fácil saber que o seu irmão está desaparecido há três dias dentro de um rio e já sem nenhuma esperança de ser encontrado com vida.
E ele acompanhou as buscas. E fotografou o resgate. E eu vi as fotos. E eu fiquei traumatizado.
Essa é uma visão chocante para qualquer adulto, até o mais preparado, quiçá para uma criança de dez anos. Por óbvio eu irei poupá-los dos detalhes daquilo que ficou marcado no meu cérebro por todos esses anos.
Enfim, daí vem esse meu pavor de água e lugares elevados sobre a água.
Esse é um medo até compreensível se pararmos para pensar no seu “fato gerador”.
Porém, o medo é, muitas vezes algo inexplicável. Não temos uma definição para aquele sentimento de impotência e pavor que nos domina.
Eu digo que o meu medo é, até certo ponto superável. Meus medos são, na verdade. Nada que uma boa terapia não resolva e eu acredito de coração que um dia isso será superado.
Mas esse não é o medo que poderia causar a mudança da minha vida. O pavor que causa arrepios e suor ao mesmo tempo.
Muitos tem essa sensação ao ver um inseto, um animal, lugares vazios, cemitérios.
É comum ter medo do inexplicável ou do que é facilmente explicado como apenas “não sei, só sei que sinto”.
Algumas pessoas, ainda, tem medo da morte e de suas consequências e desdobramentos, seja pela ausência que ela causa, seja pelos efeitos financeiros que trará aos parentes. Já outros tem medo de uma moléstia, da mais grave até a mais insignificante.
Vejam meus amigos, todos esses medos são compreensíveis. Cada um sabe o que lhe dá mais aflição e sofrimento e ninguém tem o direito de desmoralizar ou minimizar esse sentimento.
Por exemplo, meu pai tem pavor mortal de répteis. Sempre procurei entender esse pavor que não teve (ao menos não que eu saiba) nenhum motivo causador. Porém, é o medo dele.
Seria natural que meu problema de saúde induzisse a uma série de medos, desencadeados pela tristeza que a própria depressão ocasiona.
E eu tenho. Vários. Medo de falhar por exemplo. Medo de magoar as pessoas, até as que merecem ser magoadas. Tenho medo de falhar. Tenho medo de não corresponder às expectativas daqueles que gostam de mim. De fato isso acontece muitas vezes, eu sei disso. Minha vida é uma eterna cruzada nesse sentido.
Tenho medo de partir (já tentei algumas vezes). Por mais que não fosse minha hora, nunca fui egoísta o suficiente para pensar que eu poderia ir embora sem me importar com os que aqui ficariam. Na verdade eu senti medo por eles também.
São muitos medos na verdade, mas nenhum deles tem o condão de me aterrorizar tanto quanto o medo de viver uma vida sem esperanças.
Devemos, por mais difícil que seja, manter o pensamento de que um dia as coisas podem ser, no mínimo diferentes, ainda que não sejam melhores.
Acredito que esse medo me aterroriza mais e se um dia eu me deparasse com ele, sou sincero o suficiente para dizer que não aguentaria mais viver.
Pois essa vida que vivemos é feita de constantes mudanças e é esse pensamento que deve povoar nosso cérebro.
Uma vida sem esperanças não é vida. Um corpo sem vida não tem utilidade.
Falar em vida é o mesmo que falar em esperança e acredito que esse seja o sentido de estarmos aqui apanhando todos os dias. Algum sentido isso deve ter.
Esse é o meu medo mais letal: perder as esperanças.

Se um dia isso acontecer eu desisto de vez disso que chamamos de vida.