“MEDO”
Eu
já escrevi por diversas vezes que a coisa mais comum na minha vida é ter
pesadelos. A depressão me condiciona a isso. Ter um ou outro sonho bom é algo
muito raro e motivo para comemoração.
Mas
não é sempre assim.
Cá
estou eu para falar de mais um que ocorreu essa semana. Foi tenso, assustador e
aflitivo.
Nele
em me deparava com algo que eu tenho um pavor lancinante: pontes sobre rios,
lagos ou mar.
Eu
simplesmente não consigo superar o meu medo de água.
Talvez
isso se explique pelo fato de ter perdido alguns parentes vitimas de
afogamento. Mas acredito que sei onde está, exatamente, o gatilho de tudo isso.
Um
conhecido (marido de uma prima) perdeu o irmão, o qual se afogou em um rio. Eu até
entendo o sofrimento e a sensação de impotência nesse momento, pois não é fácil
saber que o seu irmão está desaparecido há três dias dentro de um rio e já sem
nenhuma esperança de ser encontrado com vida.
E
ele acompanhou as buscas. E fotografou o resgate. E eu vi as fotos. E eu fiquei
traumatizado.
Essa
é uma visão chocante para qualquer adulto, até o mais preparado, quiçá para uma
criança de dez anos. Por óbvio eu irei poupá-los dos detalhes daquilo que ficou
marcado no meu cérebro por todos esses anos.
Enfim,
daí vem esse meu pavor de água e lugares elevados sobre a água.
Esse
é um medo até compreensível se pararmos para pensar no seu “fato gerador”.
Porém,
o medo é, muitas vezes algo inexplicável. Não temos uma definição para aquele
sentimento de impotência e pavor que nos domina.
Eu
digo que o meu medo é, até certo ponto superável. Meus medos são, na verdade. Nada
que uma boa terapia não resolva e eu acredito de coração que um dia isso será
superado.
Mas
esse não é o medo que poderia causar a mudança da minha vida. O pavor que causa
arrepios e suor ao mesmo tempo.
Muitos
tem essa sensação ao ver um inseto, um animal, lugares vazios, cemitérios.
É
comum ter medo do inexplicável ou do que é facilmente explicado como apenas “não
sei, só sei que sinto”.
Algumas
pessoas, ainda, tem medo da morte e de suas consequências e desdobramentos,
seja pela ausência que ela causa, seja pelos efeitos financeiros que trará aos
parentes. Já outros tem medo de uma moléstia, da mais grave até a mais
insignificante.
Vejam
meus amigos, todos esses medos são compreensíveis. Cada um sabe o que lhe dá
mais aflição e sofrimento e ninguém tem o direito de desmoralizar ou minimizar esse
sentimento.
Por
exemplo, meu pai tem pavor mortal de répteis. Sempre procurei entender esse
pavor que não teve (ao menos não que eu saiba) nenhum motivo causador. Porém, é
o medo dele.
Seria
natural que meu problema de saúde induzisse a uma série de medos, desencadeados
pela tristeza que a própria depressão ocasiona.
E
eu tenho. Vários. Medo de falhar por exemplo. Medo de magoar as pessoas, até as
que merecem ser magoadas. Tenho medo de falhar. Tenho medo de não corresponder
às expectativas daqueles que gostam de mim. De fato isso acontece muitas vezes,
eu sei disso. Minha vida é uma eterna cruzada nesse sentido.
Tenho
medo de partir (já tentei algumas vezes). Por mais que não fosse minha hora,
nunca fui egoísta o suficiente para pensar que eu poderia ir embora sem me importar
com os que aqui ficariam. Na verdade eu senti medo por eles também.
São
muitos medos na verdade, mas nenhum deles tem o condão de me aterrorizar tanto
quanto o medo de viver uma vida sem esperanças.
Devemos,
por mais difícil que seja, manter o pensamento de que um dia as coisas podem
ser, no mínimo diferentes, ainda que não sejam melhores.
Acredito
que esse medo me aterroriza mais e se um dia eu me deparasse com ele, sou
sincero o suficiente para dizer que não aguentaria mais viver.
Pois
essa vida que vivemos é feita de constantes mudanças e é esse pensamento que
deve povoar nosso cérebro.
Uma
vida sem esperanças não é vida. Um corpo sem vida não tem utilidade.
Falar
em vida é o mesmo que falar em esperança e acredito que esse seja o sentido de
estarmos aqui apanhando todos os dias. Algum sentido isso deve ter.
Esse
é o meu medo mais letal: perder as esperanças.
Se
um dia isso acontecer eu desisto de vez disso que chamamos de vida.
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