"Eu decidi manter este gravador comigo
em todos os momentos. Só para que
talvez um dia eu possa explicar todas as coisas estranhas acontecendo
comigo. A falta
de sono. A perda de tempo. Mas acima de
tudo a sensação de nunca estar
sozinho ... sempre sendo observado. " – Evergrey
Tentei
fazer um pacto com Deus certa vez: pedi a ele que mudasse meu cérebro. Que
desse uma mente de qualquer outra pessoa, menos a minha. Menos inteligente, com
tino para outras profissões. Menos a minha mente.
Muito
embora eu saiba que as coisas não funcionam dessa forma, eu tentei.
Não
suporto mais conviver com meus pensamentos. Os dias vêm sendo difíceis e eu
confesso que, há algum tempo venho planejando um fim para todo esse sofrimento.
Mas
qual a grande razão disso tudo?
Culpa.
Um
sentimento de pesar por não poder dar às pessoas o que elas querem de mim. Por
não sentir vontade de sorrir. Por ser extremamente infeliz e não conseguir
enxergar um final para essa angústia.
Não
consigo ser o que as pessoas esperam de mim: família, amigos, clientes. Já fui
assim um dia, mas como diria uma famosa música, “não sou mais aquele homem que
costumava ser”.
E
eu me culpo por esse sentimento, pois eu imagino que no fundo as pessoas querem
meu bem, muito embora eu me sinta, de certa forma, vigiado na maior parte das
vezes.
Explico!
Parece
que, pelo fato de eu ter essa doença maldita, existe um batalhão de pessoas
querendo ver, ao menos um dia que seja, um sorriso sincero meu, que reflita uma
felicidade que, no momento não posso manifestar.
Não
consigo mais dormir. Tenho perdido o sono pensando nisso.
Eu
queria, de fato, ser diferente e, se fosse possível, assim eu seria.
Mas
no momento não posso ser mais do que as pessoas conseguem enxergar: uma concha
oca, um corpo sem espírito.
Eu
tenho que aceitar que um dia as coisas irão mudar e eu conseguirei ser tudo o
que esperam de mim. Mas esse dia não é hoje e tudo o que eu imploro, de joelhos
se necessário, é que compreendam que não faço isso por mal.
No
fim das contas não sou uma pessoa ruim. Tenho um problema que precisa ser
tratado e que, guardadas as devidas proporções, está sendo tratado.
Mas
isso leva tempo, talvez mais, talvez menos. Esse é o ponto que as pessoas não
entendem.
Tempo.
Eu preciso dele como meu aliado.
Claro
que eu gostaria que, num piscar d’olhos tudo isso acabasse, mas não é possível.
Preciso
derrubar o armário dos meus pensamentos e coloca-los em ordem, excluindo os que
não me servem mais. E isso, também, leva tampo.
Portanto,
o que peço não é nada muito caro, nem difícil de providenciar: compreensão.
A
compreensão das pessoas talvez seja o melhor remédio para essa fase negra da
minha vida. Mas eu tenho plena ciência que isso é uma coisa muito difícil de se
conseguir.
Mas,
sigo na luta.
Tenho
um problema (até certo ponto grave) e preciso de ajuda.
Apenas
compreendam isso.