sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
“Killing Moon”
Luiz acordou
naquela manhã com os gritos na rua, muitos gritos! Pessoas desesperadas corriam
sem direção, procurando fugir o mais rápido que conseguiam.
Sem muito
entender, foi até a janela e gritou para o vizinho:
- Sr. José, o
que está acontecendo?
O velho, sem
muito tempo dedicar ao rapaz apenas disse:
- Não
acredito nisso!!! Ligue a televisão filho, está em todos os canais! Fuja
enquanto é cedo!!!
Luiz, então,
ligou a televisão e ficou atônito com a notícia que todos os jornais davam:
“Confirmado
pela NASA, a lua está em rota de colisão com a terra. Tempo estimado de
impacto: cinco horas”
Por alguns
instantes ele ficou sentado na cama a divagar. Como poderia acontecer uma coisa
dessas? Por que diabos a lua colidiria com a terra.
Passando os
canais ele viu o discurso da Presidenta, rodeada de ministros e dos comandantes
militares, a qual dizia o seguinte:
“Meus amigos, é com imenso pesar que
anuncio, baseada nas informações irrefutáveis da NASA, as quais foram
confirmadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que a Lua,
efetivamente está em rota de colisão com a terra. O mais difícil é ter que
dizer que não há nada a ser feito. Não temos como impedir uma catástrofe dessa
natureza. Tudo o que podemos fazer é rezar para que Deus consiga trazer
tranquilidade aos nossos corações para que possamos enfrentar nossa hora final.
Digo, também que, se aceitarem o conselho dessa Presidenta, tentem ficar essas
horas finais com seus familiares. Aqueles que tiverem fé, orem, pois não há
nada mais a ser feito. Por fim, deixo aqui a demonstração de minha gratidão
para com o povo brasileiro e digo, como fechamento de meu discurso final, que
foi uma honra inenarrável comandar esse imenso país. Deus tenha misericórdia de
nossas almas. Muito obrigado”
Naquele
momento Luiz não conseguia mais pensar em nada. Apenas esvaziou sua mente por
um instante e chorou. Nada mais poderia ser feito.
Alguns
instantes depois ele começou a repensar sua vida, sua trajetória até aquele
momento, seus feitos, suas realizações, seus amigos, seus inimigos, sua
família.
Pegou o
telefone para ligar para seus entes queridos.
Tamanho era o
colapso mundial que os telefones já não funcionavam mais.
Saiu mais uma
vez na janela e viu que um grupo de pessoas se aglomeravam, olhando para o céu.
Percebeu que
o dia começava a tomar uma sombra estranha e, olhando para cima, pode avistar a
silhueta da lua, vindo em direção à terra.
Entrou e,
mais uma vez, colocou-se a pensar.
Nesse momento
lembrou de Flavia.
A melhor
lembrança que ele guardava em sua mente.
Algumas
perguntas vinhas aos seus lábios: Por que não deu certo com ela? Por que a
gente não ficou junto? O mundo acaba hoje e eu não tive a sensação de tê-la do
meu lado, por que? Por que a vida foi tão injusta comigo?
Luiz e Flavia
ficaram pouco tempo juntos. Luiz a amou de verdade, mas Flavia rompei pouco
tempo depois. Mas nada mudara em relação a Luiz. Ele ainda a amava e se tivesse
um último desejo, seria morrer ao lado dela, podendo olhar nos seus olhos e
dizer o quanto aquela mulher era importante para ele.
Era isso!
Luiz estava
decidido. Já que efetivamente não poderia contar com Flavia ao seu lado,
morreria com as melhores lembranças que tivera na vida, com a memória da melhor
fase dos seus dias: Quando esteve junto com Flavia.
Decidiu que
caminharia até o parque onde se conheceram e deram o primeiro beijo.
Há tempos não
passara naquele lugar. As lembranças de Flavia ainda o machucavam. Fazia mais de
cinco anos que haviam rompido, mas ele ainda sentia algo forte por ela. Não a
odiava, nem a culpava. Apenas não sabia porque não puderam ficar juntos.
Mas, por um
instante sorriu. Sabia que partiria feliz pois as melhores lembranças de sua
vida estavam com ele naquele momento.
E partiu em
direção ao parque, na contramão de todos que procuravam abrigo. Ele era o único
que sorria, ouvindo seu Ipod que tocava a musica preferida dela: “Killing Moon”
(Echo & The Bunnymen). Curioso não? A mesma lua assassina que mataria toda
a vida da terra agora era sua principal lembrança.
E lá chegou.
No parque sentado,
olhando as árvores, deu uma leve olhadela para cima.
Percebeu que
o impacto com a terra seria breve, ocorreria em menos de meia hora.
A música
estava prestes a acabar (após 23 repetições) e ele sentiu que alguém se
aproximava.
Não deu muita
atenção no começo, mas após o fim da música ouviu uma voz que dizia: “Eu sabia
que poderia te encontrar aqui”.
Ainda atônito,
virou-se e confirmou suas suspeitas ao ver Flavia em pessoa atrás dele.
Sem nada
dizer, ele a olhou por um instante. Abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada.
Flavia então,
falou:
- Não diga
nada, só me escute. Eu sabia que você estaria aqui. Ao contrário do que você
pode pensar eu venho te acompanhando há algum tempo, mas sempre tive receio de
me aproximar de novo. Eu sei que você deve pensar muitas coisas sobre mim, mas
eu quero que você saiba de uma coisa: guardo você em um lugar especial do meu
coração. Gosto de você, sinto sua falta, sinto falta das nossas conversas, dos
nossos sorrisos, da nossa alegria. Você foi uma parte muito bonita da minha
vida, o cara certo na hora errada e eu queria que você soubesse disso antes que
tudo isso acabe.
“O cara certo
na hora errada”
Convencido
disso eles se abraçaram, se olharam por um minuto e Luiz, com lágrimas nos
olhos disse:
- Agora minha
vida está completa e posso morrer em paz! Agora eu sei qual a sensação de estar
com uma pessoa até o fim da minha vida!
Sem nada mais
a dizer e percebendo que os minutos finais de aproximavam, ele a tomou pelos
braços e virou de costas para o impacto. Os dois ouviram pela última vez a
música que ela tanto amavam.
E ali,
naquele momento, a vida dos dois se tornava uma só, ainda que por alguns
minutos apenas.
Mas aqueles
poucos minutos foram os mais importantes na vida de Luiz, porque ele, “o cara
certo na hora errada”, sabia que efetivamente tinha conquistado o carinho da
mulher que tanto amou em toda a sua vida. Ela que havia sido a mulher certa
para todas as ocasiões.
O cara certo
na hora errada...
FIM
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
“UM
CONTO SOBRE PARTIDAS E CHEGADAS”
“Parte
I”
Desde
pequenos somos induzidos a acreditar que somos capazes de superar qualquer dor,
seja ela de qual tamanho for. Nossos pais passavam por coisas que pensávamos
não suportar e isso entrava em nossa cabeça como se fosse uma regra.
Para
os homens isso ainda tem um agravante, a velha frase pronta: “Meninos não
choram”.
Mas
a vida costuma trabalhar em suas próprias maneiras e nos mostra quase sempre o
contrário.
Existem
dores insuportáveis e que nunca iremos superar e, sim, meninos choram sim!
Aliás,
devemos, antes de superar determinadas dores, vivenciar o período de luto que
elas oferecem. Isso é extremamente necessário para o processo de superação. É
bem verdade que sofrer faz parte da difícil arte de viver.
Cada
dia guarda uma nova pagina na nossa vida: sofrendo, superando e aprendendo a
viver.
A
estória que estou prestes a lhes contar começa a falar de um homem que
conseguiu marcar o seu lugar no coração de muita gente sem muito esforço, sendo
apenas quem ele sempre foi.
Para
tanto, precisamos regredir ao ano de 2006, mais precisamente no mês de Janeiro.
Esse
mês foi muito importante na minha vida, pois dois acontecimentos estavam
marcados, o casamento da minha irmã e minha colação de grau na Faculdade de Direito.
Pois
bem, como já disse algumas pessoas passam em nossa vida e deixam seu nome
esculpido em nossos corações. Com meu tio José foi exatamente assim que
aconteceu. Carinhosamente chamado de “Tizé” pelos sobrinhos e “Zé Vermelho” ou
simplesmente “Vermelho” pelos demais familiares e amigos, meu tio tinha um
carinho muito grande por todos os sobrinhos.
Como
exemplo da importância da figura dele na nossa família, ele batizou meu irmão
caçula, foi meu padrinho de crisma e padrinho de casamento da minha irmã,
juntamente com minha tia Fátima (conhecida carinhosamente como “Tia Fatinha”).
Era
realmente um casal abençoado. Sempre que íamos passar férias em Minas Gerais,
brigávamos para ver quem dormiria na casa do Tizé. Adorávamos meu tio e minha
tia de uma maneira tão inexplicável que perdíamos a noção do tempo na casa
deles. Por muitas vezes nossa mãe precisava ir buscar os filhos na casa do
irmão, pois se deixasse, esqueceríamos da vida e ali ficaríamos.
Meu
tio, por sua vez, contribuía muito para isso. Sempre teve o espírito muito
jovem. Vivia no meio da molecada, jogando bola na rua.
Realmente
um grande exemplo de homem (superado apenas por meu pai, o maior exemplo e
referência de homem que posso adotar em minha vida).
Nesse
mês de janeiro eu estava muito feliz, de verdade. Pois no dia 07 foi o
casamento da minha irmã e lá estava a família toda. O pessoal de Minas alugou
uma Van para trazer todo mundo (pois os casamentos da minha família se
transformam facilmente em eventos sociais), entre eles familiares, amigos e
pessoas que conhecemos na hora e, num piscar de olhos, já nos apegamos e
criamos amizade, como o motorista da Van, Marcelo, o cara mais “família” que eu
conheci nesse mundo!
E lá
se foi toda a família. Eu estava emocionado demais, afinal de contas era o
casamento da minha irmãzinha querida. Ao me arrumar, ainda na tarde do
casamento, fiquei cerca de vinte minutos trancado no banheiro chorando, pois a
minha única irmã estava se casando. Estava, de fato, muito emocionado.
A
cerimônia transcorreu e, em seguida, seguimos para a festa. Em meio a toda
aquela alegria eu parei um momento (já sem gravata, com a camisa para fora da
calça) e observei meus tios dançando e pensei comigo: “Como é possível após
todos esses anos as pessoas continuarem tão apaixonadas?” Eles ainda olhavam
nos olhos um do outro, minha tia tinha ciúmes do meu tio. Realmente era uma
coisa muito bonita de se ver.
Sempre
com sorriso no rosto.
Nunca
fomos mal tratados por eles, pelo contrário. Quando eu estava na casa dos meus
tios, éramos tratados como reis. Confesso que ficamos até um pouco mal
acostumados com isso.
No
geral, amamos todos os nossos tios. Exemplo disso foi o texto em que narrei a
dor que foi deixar minha tia para trás quando estava de mudança para Minas
Gerais. Mas com meu tio a coisa era diferente, não sei explicar.
Após
o casamento, já no dia seguinte, depois de muitos protestos nossos, eles
partiram em direção a Minas Gerais. Na verdade eles não poderiam ficar mais,
pois tinham outra viagem no mesmo mês, em direção ao Espírito Santo. Iria para
a praia. Todo ano iam.
Na
despedida eu vi um lado do meu tio que nunca havia visto na minha vida.
Chorava
copiosamente ao abraçar um por um de nós e nós, por óbvio, também chorávamos.
Eu,
na minha inocência, não sabia que aquela seria a ultima vez que eu sentiria o
abraço do meu tio.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
“DESCONSTRUIR”
Muitos
de vocês devem estar achando estranho essa palavra, mas ao longo desse singelo
texto eu explicarei porque uso a palavra “desconstruir”, ao invés de “construir”.
Pois
bem, o uso foi proposital e direi a razão para tanto.
Muito
tempo a gente perde com coisas idiotas, sem sentido, que só fazem mal para a
gente.
E
digo mais, eu tenho a seguinte teoria “a gente vive várias vidas dentro da
nossa vida”. Isso mesmo, nascemos e morremos durante toda a nossa vida.
Mas
como isso?
Simples,
a vida nada mais é do que uma sequencia cíclica.
Mas
isso não é automático.
Depende
muito de nós mesmos. Para alguns a vida é só uma e assim como começou
terminará.
Para
essas pessoas ouvimos a frase triste dita geralmente em velórios “morreu como
viveu...”
Existe
uma história que, sendo lenda ou não, serve exatamente como metáfora necessária
para explicitar o que estou dizendo.
Há alguns
anos foi veiculada na internet a história da águia. Muitos de vocês já devem
ter ouvido falar sobre isso. Diz a lenda que quando a água atinge uma certa
idade ela sobe ao pico mais alto e se isola por um tempo. Lá, ela quebra seu
bico e arranca suas penas. Novas penas crescerão e o bico se renovará.
Mito
ou não, onde quero chegar?
É
preciso saber a hora de nos renovarmos! De botarmos tudo abaixo e recomeçar do
zero.
Eu
desenvolvi esse costume, mas muita gente não entende.
Muitas
vezes procuro me isolar até que meu bico se refaça e que novas penas nasçam no
lugar das velhas. E, meus amigos, quando costumo chegar no topo da montanha
para fazer isso, podem ter certeza, o estado é precário. É hora de renovar.
Faço isso sozinho, sem muito alarde, só fico quietinho no meu canto,
desconstruindo.
A,
desconstruir...
Chegou
o momento chave do texto!
Por
que razão eu disse desconstruir ao invés de destruir como ferramenta essencial
no processo de renovação?
Porque,
meus caros amigos, muito do que nos desgasta a ponto de precisarmos de um “recapeamento”
(no caso mínimo) ou de um “extreme make over” (no caso mais drástico) é consequência
de nossos próprios atos. Nós criamos situações que nos impedem de sair com
facilidade delas.
Por
essa razão é preciso desconstruir o que começamos errado e levantar nova
edificação, do zero.
Não
basta destruir.
O
processo de desconstrução permite que você perceba cada tijolo errado que usou
naquela construção e não o use novamente.
É um
grande exercício de “espionagem de erros”. A partir daí conseguimos ver o que
fizemos de errado e consertarmos para a nova vida que estamos começando.
Ao
contrário do que muitos devem estar pensando, esse é um processo sadio. Não há
demérito nenhum em começar de novo, do zero. Pelo contrário! Mostra maturidade
suficiente para reconhecer o erro e dizer: “Opa, não erro mais dessa forma”.
Então
meus amigos, desconstrua você também! Nossa existência permite que você tenha
uma gama de vidas diferentes ao longo dos seus anos! Então por que razão você
vai ficar preso a uma vida só?
Depois
disso tudo, fica para você, meu amigo, uma pergunta:
Você
já desconstruiu hoje?
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