domingo, 6 de janeiro de 2013


“Angelique”

 

 

 

 

E então, Angelique não mais lhe respondia.

Não sabia por qual razão, mas ela simplesmente o ignorava, era indiferente a qualquer tentativa de contato dele.

Isso o matava aos poucos.

Angelique era tudo o que ele sempre havia sonhado, a mulher de seus sonhos, aquela que o fizera descobrir o amor que nunca tivera.

Agora sua imagem esvaía-se em meio às memórias que tinha dos momentos em que passaram juntos.

Ela aparecera em sua vida da forma mais linda possível, no momento em que ele estava mais descrente de que qualquer sentimento bom fosse possível acontecer na sua vida.

No entanto, “como um anjo” ela estava lá para provar o contrário.

E naquele momento ele sabia que os dois deveriam ficar juntos... e ficaram.

Mas a vida dele era complicada demais e ele sabia que mais cedo ou mais tarde ela não suportaria ficar ao seu lado.

Ainda assim, ele a amava e aproveitava cada momento com ela.

Ele conseguia enxergar nos olhos dela seu futuro, sua vida, o significado do amor, aquele amor que nunca conhecera. Era feliz ao seu lado e pretendia faze-la a pessoa mais feliz do mundo.

Cada vez que a encontrava era mágico!

Os dois se completavam de tal forma que ele não poderia acreditar na finitude de algo tão belo. E então, perdia-se naquele momento, esquecendo o mundo e vivendo apenas Angelique.

E os dias foram passando e ele cada dia mais apaixonado.

Mas não fizera o suficiente para que Angelique se sentisse segura ao ponto de acreditar que ele queria de fato ter uma vida com ela. Ele tinha planos, queria ficar com ela o quanto antes e para sempre.

Mas a vida sempre conspirava contra.

E, por dentro, ele morria um pouco mais a cada dia, pois o que mais queria nessa vida era poder viver Angelique em sua plenitude, sem nenhuma outra preocupação.

Por muito tempo ela foi a razão de sua medíocre existência. Aquela pessoa pela qual valeria a pena viver e morrer.

A cada vez que se despedia de Angelique, parecia perder dez anos de vida, rumo a uma morte lenta, injusta e dolorosa.

Sentia-se preso sem Angelique, limitado ao seu mundo de pura tristeza e angustia solitária.

Vivera sozinho até aquele momento e Angelique fora a pessoa que lhe dera sentido à vida.

Mas com o passar dos dias o comportamento de Angelique fora mudando e ela, por certas vezes arredia, parecia abandonar o sentimento que ele achava ser vivenciado por ela.

Ele já havia se dado conta disso.

Apesar das inúmeras tentativas de consertar aquela situação, Angelique parecia desaparecer a cada dia, como a neblina da manhã desaparece com os primeiros raios de sol.

Ela não mais respondia suas mensagens, não atendia o telefone, ou, então, atendia o telefone e desligava.

Ao ser indagada Angelique era arredia, parecia com seu olhar profundo acusa-lo de esconder seus verdadeiros intentos para com ela. Mas os verdadeiros intentos dele eram: ter uma vida ao seu lado e fazer dela a pessoa mais feliz do mundo.

Angelique, por sua vez, também já havia se decepcionado na vida e ele entendia sua resistência em relação a alguns fatores que tornavam o relacionamento deles uma montanha russa, do topo da felicidade, para o túnel das duvidas.

Ele achava que poderia mudar a cabeça de Angelique e procurou as melhores formar de lhe explicar.

Mas ela, por fim, cansara-se.

Não poderia mais suportar a dificuldade que era a vida daquele homem. Como diria a música, a vida dele era tão confusa quando “a América Central” e ela não esperaria que as nuvens saíssem de cima da cabeça deles.

Ela precisava cuidar da própria vida, encontrar seu grande amor e ele não faria parte desse grande plano.

Por isso ela sumira, no entendimento dele.

Ele até entendia tudo isso.

Mas o que mais machucava e trazia uma dor lancinante para o coração daquele homem era o fato de, em sua ultima conversa, ela se referir a ele como “uma pessoa especial” ou, ainda, “a melhor pessoa que ela já havia conhecido”.

Tão especial e uma pessoa tão boa que não mereceu nem uma explicação sobre aquela situação, ela apenas preferiu ignora-lo.

A partir desse momento, resolvera deixar Angelique ir.

Talvez ela não suportara a vida que ele levava e o fato de nunca ter amado ninguém como amava Angelique.

Ele, de fato não sabia o que acontecia, mas deixaria Angelique ir.

“Se você ama alguém, deixe que vá”! Ficava repetindo isso com frequência, como forma de apascentar seu sofrimento.

Sofrimento que não parecia ter fim...

Enxergava Angelique em tudo.

Mas ele sabia que não tinha sido “especial” o suficiente para cativar Angelique.

Não a ponto de fazer com que ela acreditasse que poderia ser de fato feliz ao lado daquele homem. Na verdade ele já duvidava se teria feito Angelique feliz algum dia.

Era um homem muito misterioso que tivera um passado de desilusões e desencontros, fugindo de situações e procurando sempre sua zona de conforto. Talvez Angelique não precisasse disso e por essa razão, por achar que ele jamais deixaria sua “zona de conforto” ela não achasse interessante permanecer ao lado de alguém assim.

Isso ele também entendia perfeitamente.

Mas não entendia o fato de ela ter optado por, simplesmente, sumir daquele jeito.

Ele não tinha mais forças para busca-la, para alcança-la.

Mas apesar de tudo aquilo, seu coração doía por saber que, naquele exato momento ela poderia ter encontrado a felicidade nos braços de alguém que lhe oferecesse tudo o que ele não foi capaz de oferecer.

Mas, em contrapartida, ela merecia ser feliz. Deveria seguir adiante.

Angelique era uma linda mulher, inteligente, sedutora e cativante. Não seria nenhum absurdo pensar que ela pudesse ter encontrado alguém.

Ela merecia isso, por tudo o que havia representado em sua vida. Apesar de tudo, era ela uma pessoa maravilhosa que marcou sua vida de forma tão efetiva que ele não sabia como viveria sem ela.

Ainda relutante em virar essa pagina ele lembrou dos melhores momentos ao lado dela. De como fora feliz e de como ela havia feito dele o homem mais feliz do mundo.

E ela, por sua vez, nunca foi e nunca será tão amada por outro homem enquanto viver.

Disso ele tinha certeza! Nenhum outro homem seria capaz de amar Angelique como ele havia amado.

Isso tonava sua dor menos insuportável.

Mas ainda doía muito lembrar das juras de amor feitas por ela e de que, apesar disso tudo, ela tenha sumido dessa forma, estivesse tão indiferente.

O amor por Angelique talvez nunca acabe, assim como a tristeza por saber que nunca mais a veria e que ela poderia ser feliz ao lado de outro homem.

O que fica agora é a lembrança das palavras “você é uma pessoa muito especial”.

Especial?

Não o suficiente a ponto de merecer, ao menos, um Adeus.

FIM.