quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


“UM CONTO SOBRE PARTIDAS E CHEGADAS”



 

“Parte I”

 

 

Desde pequenos somos induzidos a acreditar que somos capazes de superar qualquer dor, seja ela de qual tamanho for. Nossos pais passavam por coisas que pensávamos não suportar e isso entrava em nossa cabeça como se fosse uma regra.

Para os homens isso ainda tem um agravante, a velha frase pronta: “Meninos não choram”.

Mas a vida costuma trabalhar em suas próprias maneiras e nos mostra quase sempre o contrário.

Existem dores insuportáveis e que nunca iremos superar e, sim, meninos choram sim!

Aliás, devemos, antes de superar determinadas dores, vivenciar o período de luto que elas oferecem. Isso é extremamente necessário para o processo de superação. É bem verdade que sofrer faz parte da difícil arte de viver.

Cada dia guarda uma nova pagina na nossa vida: sofrendo, superando e aprendendo a viver.

A estória que estou prestes a lhes contar começa a falar de um homem que conseguiu marcar o seu lugar no coração de muita gente sem muito esforço, sendo apenas quem ele sempre foi.

Para tanto, precisamos regredir ao ano de 2006, mais precisamente no mês de Janeiro.

Esse mês foi muito importante na minha vida, pois dois acontecimentos estavam marcados, o casamento da minha irmã e minha colação de grau na Faculdade de Direito.

Pois bem, como já disse algumas pessoas passam em nossa vida e deixam seu nome esculpido em nossos corações. Com meu tio José foi exatamente assim que aconteceu. Carinhosamente chamado de “Tizé” pelos sobrinhos e “Zé Vermelho” ou simplesmente “Vermelho” pelos demais familiares e amigos, meu tio tinha um carinho muito grande por todos os sobrinhos.

Como exemplo da importância da figura dele na nossa família, ele batizou meu irmão caçula, foi meu padrinho de crisma e padrinho de casamento da minha irmã, juntamente com minha tia Fátima (conhecida carinhosamente como “Tia Fatinha”).

Era realmente um casal abençoado. Sempre que íamos passar férias em Minas Gerais, brigávamos para ver quem dormiria na casa do Tizé. Adorávamos meu tio e minha tia de uma maneira tão inexplicável que perdíamos a noção do tempo na casa deles. Por muitas vezes nossa mãe precisava ir buscar os filhos na casa do irmão, pois se deixasse, esqueceríamos da vida e ali ficaríamos.

Meu tio, por sua vez, contribuía muito para isso. Sempre teve o espírito muito jovem. Vivia no meio da molecada, jogando bola na rua.

Realmente um grande exemplo de homem (superado apenas por meu pai, o maior exemplo e referência de homem que posso adotar em minha vida).

Nesse mês de janeiro eu estava muito feliz, de verdade. Pois no dia 07 foi o casamento da minha irmã e lá estava a família toda. O pessoal de Minas alugou uma Van para trazer todo mundo (pois os casamentos da minha família se transformam facilmente em eventos sociais), entre eles familiares, amigos e pessoas que conhecemos na hora e, num piscar de olhos, já nos apegamos e criamos amizade, como o motorista da Van, Marcelo, o cara mais “família” que eu conheci nesse mundo!

E lá se foi toda a família. Eu estava emocionado demais, afinal de contas era o casamento da minha irmãzinha querida. Ao me arrumar, ainda na tarde do casamento, fiquei cerca de vinte minutos trancado no banheiro chorando, pois a minha única irmã estava se casando. Estava, de fato, muito emocionado.

A cerimônia transcorreu e, em seguida, seguimos para a festa. Em meio a toda aquela alegria eu parei um momento (já sem gravata, com a camisa para fora da calça) e observei meus tios dançando e pensei comigo: “Como é possível após todos esses anos as pessoas continuarem tão apaixonadas?” Eles ainda olhavam nos olhos um do outro, minha tia tinha ciúmes do meu tio. Realmente era uma coisa muito bonita de se ver.

Sempre com sorriso no rosto.

Nunca fomos mal tratados por eles, pelo contrário. Quando eu estava na casa dos meus tios, éramos tratados como reis. Confesso que ficamos até um pouco mal acostumados com isso.

No geral, amamos todos os nossos tios. Exemplo disso foi o texto em que narrei a dor que foi deixar minha tia para trás quando estava de mudança para Minas Gerais. Mas com meu tio a coisa era diferente, não sei explicar.

Após o casamento, já no dia seguinte, depois de muitos protestos nossos, eles partiram em direção a Minas Gerais. Na verdade eles não poderiam ficar mais, pois tinham outra viagem no mesmo mês, em direção ao Espírito Santo. Iria para a praia. Todo ano iam.

Na despedida eu vi um lado do meu tio que nunca havia visto na minha vida.

Chorava copiosamente ao abraçar um por um de nós e nós, por óbvio, também chorávamos.

Eu, na minha inocência, não sabia que aquela seria a ultima vez que eu sentiria o abraço do meu tio.

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