Alguns
meses depois do acidente o sonho que eu havia tido com o meu tio ainda me
assombrava, muito embora eu soubesse que aquela mensagem precisava ser entregue
e, de fato, foi.
Mas
a vida precisava prosseguir.
O
ano seria longo e a vida deveria seguir. Eu ainda teria que me submeter ao
exame da OAB para obtenção da carteira de advogado. Portanto, por mais trise
que eu estivesse e por mais que a vida tivesse perdido o sentido eu precisava
ir adiante.
Sabia
que a memória dos momentos bons que passei com eles jamais se apagaria e,
assim, retomei o curso da minha vida.
No
mês de abril, na semana santa, estávamos em casa aproveitando o feriado quando
minha mãe veio com a seguinte notícia:
-
Fiquem preparados pois o avô de vocês está no hospital e parece não ter muito
tempo de vida.
A
notícia não surtiu efeito impactante sobre mim, pois o pai do meu pai nunca foi
uma pessoa muito presente em nossas vidas. Pelo contrário! Sequer registrou meu
pai, por motivos que desconhecemos.
Em
princípio a preocupação maior foi com meu pai, uma vez que eu pouco lembrava do
meu avô. Ele deve ter ido umas três vezes no máximo na nossa casa.
Mas
eu lembrava do meu pai e do que ele dizia quando éramos crianças. Presenciei
alguns momentos de profunda tristeza do meu pai, pela ausência que aquela
pessoa imprimiu em sua vida.
Geralmente
no dia dos pais, onde, em algumas ocasiões o peguei chorando escondido.
Por
mais que fizéssemos presentes na escola ou comprássemos alguma lembrancinha eu
sabia que ele sentia a falta do pai e dos irmãos que não conhecia.
Uma
vez ele, vendo um programa de televisão, onde um irmão brigava com outro, disse
(eu me lembro que tinha cerca de sete ou oito anos na ocasião):
-
Nossa, se eu tivesse um irmão eu ficaria grudado nele! Jamais brigaria com ele.
Esse povo não sabe o que está fazendo!
Isso
incomodava meu pai. Por mais que ele tivesse uma irmã por parte de mãe, o fato
de saber que tinha vários outros irmãos desconhecidos o deixava triste. Uma
outra vez ele disse aos meus irmãos e a mim: “O melhor amigo que você pode ter
nessa vida é o seu irmão”.
Essas
palavras ficaram cravadas na minha cabeça.
Pois
bem, naquele mesmo dia onde a notícia que meu avô estava nas últimas, algumas
horas depois, o telefone tocou. Percebi um certo “corre corre” em casa e logo
pude constatar que se tratava de algo relacionado ao meu avô.
Minha
mãe então disse que uma irmã do meu pai estava em São Paulo para acompanhar meu
avô no hospital e que estava a caminho da nossa casa para nos conhecer.
Aquilo
foi como se um meteoro caísse naquela casa. Meu pai corria de um lado para o
outro até que, no meio da cozinha, parou e entregou-se ao pranto.
Um
choro de alívio e de medo ao mesmo tempo. Todos nós nos abraçamos e, pouco
tempo depois, lá estava minha tia Marizete, em casa. A semelhança com a minha
irmã era tão impressionante que pareciam mãe e filha.
Ficamos
a tarde toda acertando todos os desacertos do passado e meu pai, o tempo todo grudado
nela.
Percebi
que era verdade aquela vontade de “não largar mais”.
O
tempo passou tão rápido aquele sábado. Quando percebemos já era tarde e ela
teve que ir embora.
Pela
manhã do domingo, o telefone toca mais uma vez, logo cedo: meu avô havia
falecido. Era minha “nova” tia que havia ligado e avisado que os demais irmãos,
sabendo que ela tinha enfim conhecido meu pai exigiam a presença da família
inteira no enterro.
E
lá fomos nós! Apreensivos. Não sabíamos qual seria a reação dos demais tios e
primos. Poderia ser de repulsa, poderíamos ser considerados invasores. Não sabíamos
ao certo o que esperar. Mas, quando lá chegamos, o clima era totalmente outro!
O
que era para ser um enterro acabou virado uma grande festa.
Era
um tal de “olá eu sou sua tia”, “olá eu sou seu primo”. Abraços de todos os
lados! Parecia que nos conhecíamos há anos!
Como
a vida é curiosa. Um dado momento naquele dia eu, olhando para uma pessoa que
havia chamado muito minha atenção, perguntei para minha mãe: “Mãe, quem é
aquela mulher?” Minha mãe respondeu com uma naturalidade que jamais seria vista
em mim: “Ué, ela é sua tia, irmã do seu pai!”
Minha
admiração veio do fato de eu pegar o mesmo ônibus que ela pegava por cerca de
dois anos!
Isso
mesmo! Eu estava no mesmo espaço físico de uma tia minha por tanto tempo e, nem
eu nem ela, sabíamos disso! Morávamos tão perto e mal poderíamos desconfiar
disso!
Saldo
daquele funeral: Meu pai havia ganhado seis irmãos: Marizete, Moisés, Osvande,
Marisa, Dorival e Betania.
Eu
havia ganhado muitos primos, um mais “gente fina” que o outro!
Não
deu para não pensar no quanto a vida é engraçada.
Eu
que já tinha passado por tanta tristeza naquele mesmo ano, agora sorria e
encontrava esperanças naquelas novas pessoas que eram introduzidas de forma tão
abrupta e tão bem vinda nas nossas existências.
Engraçado
que a morte do meu avô serviu para que meu pai finalmente conhecesse seus tão
aguardados e já amados irmãos!
Acredito
que tenha sido seu último ato de redenção: reaproximar a família.
Hoje
mantemos contato constante com alguns desses novos parentes. São pessoas
adoráveis e que aprendemos a amar sem muito esforço, pois são “gente como a
gente”. Alguns, por força das circunstâncias acabaram se afastando, mas é possível
entender que a vida leva as pessoas para caminhos diferentes e muitas vezes
distantes. Mas o amor por eles se mantém intacto e, sempre que podemos mandamos
um “alô” ou eles mesmo nos mandam lembranças.
A
vida nos ensina lições à sua própria maneira. Sem perguntar se queremos desse
jeito ou daquele. Apenas acontece e aprendemos algo com isso tudo.
Eu
que pensei que jamais voltaria a sorrir, algum tempo depois descobri que tinha
novos motivos para isso.
Mas
as brincadeiras do meu “Tizé”, sua alegria, seu caráter e seu espírito
acolhedor, jamais sairão da minha mente e do meu coração.
Eu
aprendi que existem várias formas de amar: amor de pai, de mãe, de avó, de avô,
de marido, de mulher, de filho, de filha e, por fim, amor de tio.
Esse
é um amor diferente, não é de pai, não é de avô. É um amor de amigo e ao mesmo
tempo um amor protetor.
Mas
a pergunta é, como eu sei que amor é esse?
Respondo-lhes
meus queridos: Deus me proporcionou a oportunidade de honrar a memória do meu
tio sendo o mais próximo do que ele foi para mim, para minhas sobrinhas.
Maria
Clara veio ao mundo no dia 06 de julho de 2013 e, quando ela nos foi
apresentada, ainda no berçário eu senti meu tio do meu lado me dizendo: “Você
será um excelente tio!” Dava pra ver o sorriso no rosto dele presenciando o
amor que ele nutria por nós sendo passado para mim e meus irmãos, como se fosse
um legado que se transfere.
Esse
amor é tão grande e tão forte que esquenta o coração e faz com que nos sintamos
mais humanos.
Eu
sei que jamais chegarei aos pés do que o meu tio representa para mim, mas eu
prometo não só a ele como às minhas duas sobrinhas que farei o meu melhor.
Maria
Clara, filha da minha irmã Cindy já está entre nós e em dezembro é a vez da
Bia, filha do meu irmão Rodrigo.
O
que posso deixar registrado para elas é que: Minhas princesas, o titio as ama mais
que a ele mesmo! Vocês são os tesouros que papai do céu pôs em nossas vidas,
devolvendo o sentido para tudo isso!
Para
Deus eu digo: “levei muito tempo para entender seus propósitos, mas hoje, mesmo
que o tenha negado e questionado e, ainda, não entendendo por qual razão as
pessoas boas devem partir, compreendo a razão disso tudo”.
Hoje
esse amor é meu! Hoje a sensação é minha. Hoje o sorriso e alegria que eu
presenciei por tantas vezes no rosto do meu tio, enche meu coração!
Obrigado
“Tizé” por todo o amor que o senhor me deu ao longo de tantos anos e desculpe
por não ter conseguido retribuir esse amor a tempo, mas prometo que, em sua
homenagem, serei um tio tão amoroso quanto o senhor foi.
Não
posso estar com o senhor, mas sei que o senhor seguirá sempre em mim!
O percurso de cada família é único; é construído por tramas de varias texturas e cores. Cada família tem suas misturas com seus valores, hábitos e condutas e características singulares, onde a dignidade a decência brio são heranças propagada pela nossa criação e formação, e é essa humanização que nos ensina a maneira de amar, fazer distinção das coisas e seres e o caminho a seguir. Nos episódios nos capítulos da tua vida, você plantou encanto harmonia estima respeito. Então você só poderia colher frutos de bem querença; admiração conquista, feito, sorte, sucesso vitória.Que vc continue semeando cultivando bons sentimentos e mais possibilidades de colher deliciosos frutos.
ResponderExcluir(Até aqui muitas das pag da tua vida coincide com a minha acredite)
,
Boa Lê... Vc será um super tio... E como diz a música:
ResponderExcluir"Todos os dias é um vai e vem
a vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
são só dois lados
da mesma viagem
O trem que chega
é o mesmo trem da partida
A hora do encontro
é também despedida
A plataforma dessa estação
é a vida desse meu lugar
é a vida desse meu lugar
é a vida..."
Brindemos as Vidas Novas... Jamais esquecendo das Vidas que passaram pelas nossas vidas...
Bju...