sábado, 30 de junho de 2012


A JANELA





Hoje tinha tudo para ser um dia como qualquer outro e, de fato, já levantei como se tudo fosse igual: desliguei o despertador do celular e fui tomar meu banho.

Nada de anormal ou diferente do que eu já estava acostumado, a não ser que, enquanto a agua caía no meu rosto eu me lembrei de uma passagem muito saudosa da minha juventude: a janela do quarto do meus pais.

Pode parecer uma bobagem sem tamanho, mas eu adorava ficar parado na janela olhando a chuva cair no quintal, as pessoas passando apressadas na rua, correndo para não se molharem, a garoa fina que é característica da nossa cidade.

Mas eu ficava parado ali, por horas.

Não me importava muito, se o tempo passava, se o almoço estava pronto, se havia gente em casa.

Tudo o que eu queria era ficar ali olhando a chuva cair.

Hoje eu me pergunto porque disso, já que nesse mundo que não para, eu sou só mais um que corre de lá para cá.

Naquela época as coisas eram mais fáceis para mim. Mais simples.

Não que agora não sejam. Tenho minha esposa, estamos constituindo família e tudo o mais. Tenho meu apartamento, tenho meu emprego. Estou passando por um ano abençoado, com perspectivas de melhora e filhos por virem.

Mas, por um instante eu senti falta de uma janela para que eu pudesse olhar a chuva por horas, aqui no meu apartamento.

Eu sempre fui um cara alheio ao mundo, fechado e com medo de gente e, de fato, ainda sofro com resquícios disso nos dias de hoje.

Mas muita coisa mudou na minha vida.

Enfrentei situações difíceis. Relacionamentos que acabaram, morte trágica de parentes, depressão e não se pode dizer que a gente continua o mesmo depois que essas coisas acontecem.

A vida é um eterno aprendizado e a gente aprende a tirar algo de positivo dessas desgraças.

Hoje me considero um cara mais forte, mais preparado para o mundo, muito embora ainda, como disse, sofra resquícios da minha fobia social e da depressão. Mas é como uma pessoa que para de fumar e às vezes tem umas recaídas. Eu tenho a minha as vezes, então vou para o banheiro, ligo o chuveiro e faço de conta que estou na frente da janela do quarto dos meus pais e deixo as lágrimas se misturarem com a água que cai em meu rosto.

E o ciclo dos meus dias toma curso novamente.

Não deixo que as tristezas me dominem mais, aprendi a dar valor para as coisas que eu tenho e para as pessoas que estão do meu lado e agradecer sempre por ter a oportunidade de poder sempre mais.

Aquele garoto que passava horas olhando a rua, imaginando como seria a vida daquelas pessoas que ali passavam apressadas, hoje, tem a sua própria vida e passa apressado em frente à janela de outros garotos que fatalmente, quando tiverem seus trinta e poucos anos também irão acordar de manhã e, no interregno da preparação para sair para o trabalho, lembrarão daquele cara passando em frente a janela da sua casa.

Esse texto vai para todos aqueles que, como eu, sentem falta da simplicidade do nosso passado e que sentem saudade de uma “janela para olhar a chuva”.

Mas sempre é tempo de criar sua própria janela e se desligar do mundo, ainda que por alguns instantes.

Eu com todos os meus picos de instabilidade emocional consegui. Vocês também conseguirão. Basta ter vontade e criatividade.

O resto é com vocês! Procurem a sua janela!


2 comentários:

  1. Caro escritor,
    Não havia lido esse texto, parece tão diferente dos atuais...mais pueril!

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    Respostas
    1. Caro(a) amigo(a):
      Deveras pueril meu texto foi, relembrando-me os momentos mais belos da minha doce infância, onde tudo era mais simples e aprazível! Conversando com alguns amigos, pude perceber que muita gente se identificou com ele! Todo mundo teve sua janela na infância!
      Um grande abraço, deixe o nome para que possamos manter contato!
      Leandro

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